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Como diria Carmem Lúcia: “Cala boca já morreu!”, escreve Adriana Vasconcelos

A falta de cerimônia com que vice-líder do governo no Senado Marcos Rogério (DEM-RR) atropelou na semana que termina a fala de sua colega Leila Barros (PSB-DF), durante o depoimento de Fábio Wajngarten na CPI da Covid, expôs mais uma vez as entranhas do machismo encarado diariamente por mulheres no seu dia a dia. Dentro e fora da política.

Não satisfeito em interromper a colega, Marcos Rogério ainda se sentiu no direito de desqualificar a reação de Leila do Vôlei, como é mais conhecida. “Calma, a senhora não precisa ficar nervosa”, provocou, cortando mais uma vez a senadora.

Leila Barros foi interrompida a primeira vez quando tentava exibir um trecho do áudio da entrevista concedida por Wajngarten à revista Veja, no qual o ex-secretário de Comunicação do Governo Bolsonaro admitiu a “incompetência” do Ministério da Saúde na aquisição de vacinas da Pfizer.

Por diversas vezes a senadora tentou recuperar a palavra, sendo totalmente ignorada por Marcos Rogério.

O senador Marcos Rogério, aliás, foi um dos governistas que se rebelou, na 1ª semana de trabalhos da comissão, contra o acordo feito pelo presidente Omar Aziz (PSD-AM) que assegurou a participação de pelo menos uma representante da bancada feminina nas oitivas da CPI, apesar de nenhuma delas ser titular ou suplente.

Em março passado, o plenário do Senado aprovou a criação da liderança da bancada feminina na Casa, o que garantiu às senadoras o direito a indicação de uma líder e uma vice-líder. E agora tais prerrogativas de representação começam a se expandir naturalmente, incomodando congressistas que não estavam acostumados a dividir a cena política com mulheres.

DIREITOS IGUAIS – A tentativa de silenciar a voz feminina ou desqualificá-la, muitas vezes com insinuações de que não teríamos equilíbrio emocional ou competência para estar ali, é recorrente. Embora o texto constitucional assegure que todos os brasileiros são iguais perante a lei, na prática nem sempre isso é aplicado.

Foi o que aconteceu em Brasília com uma mulher, no dia 7 de maio, enquanto andava de bicicleta em um dos principais pontos de lazer da orla do Lago Paranoá.

A servidora pública Patrícia Nogueira registrou em seu celular a diferença de tratamento do segurança dispensada a ela e a um homem que circulava nas mesmas condições que as suas, só que sem ser incomodado.

Patrícia estava sem camisa, usava a parte de cima do biquíni e um short. Um homem que passava, enquanto ela era repreendida pelo segurança por estar em “trajes inapropriados” para o local, estava igualmente sem camisa, trajando apenas um short.

“Eu não posso de short e a parte de cima do biquíni, mas homem sem camisa pode, é isso?”, indagou Patrícia ao segurança, que, constrangido diante do questionamento sobre a diferença de tratamento para situações semelhantes, entregou que as ordens tinham vindo de seus superiores hierárquicos.

Não estamos livres da discriminação nem mesmo dentro de nossas próprias casas. Mas aprendemos a reagir, denunciar e cobrar respeito a nossos direitos básicos. Não somos mais uma minoria, batalhamos para conquistar nosso espaço no mercado de trabalho. E agora, estamos preparadas para fazer valer nossas opiniões em debates sobre políticas públicas e a influenciar decisões que definirão os rumos do Brasil. Além, é claro, de participar das investigações da CPI da Covid.

O NOVO PAPEL DAS MULHERES – Por mais resistências que a presença feminina ainda provoque em pleno século 21, estamos avançando. E a pandemia acabou dando mais visibilidade ao papel estratégico que desempenhamos na sociedade.

Por isso recorro ao ditado popular, magistralmente usado em algumas ocasiões pela ministra Cármen Lúcia, do STF, em defesa do direito à liberdade de expressão, e que se aplica como uma luva aos senadores da CPI da Covid que ainda acham que a voz masculina deve prevalecer sobre a feminina, embora ambas tenham sido igualmente legitimadas pelo eleitor: “Cala boca já morreu, quem manda na minha boca sou eu!” (Do Poder 360)

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